Meles meles (Linnaeus, 1758)

Texugo

Outros Nomes Comuns: texugo-cão, texugo-porco, texugo-europeu, texugo-euroasiático

Morfologia de Meles meles

 © João Monte
 © João Monte
 © Francisco Barros
Texugo a alimentar-se durante a noite © Sercaça
Texugo a alimentar-se durante a noite...
 © Valter Jacinto
Texugo fotografado por câmara nocturna em Santa Susana - Alentejo © Sercaça
Texugo fotografado por câmara noctur...

Informação detalhada sobre Meles meles

Continente: Nativa, Protegida (Anexo III Convenção de Berna)
Açores: Ausente.
Madeira:
Ausente.

Ciclo de vida:   
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Descrição geral da espécie


Carnívoro de médio porte pertencente a família Mustelidae. A espécie é facilmente reconhecida pelo seu padrão morfológico facial, onde apresenta pelagem branca com duas listas longitudinais negras da ponta do focinho até às orelhas. A restante pelagem do corpo é acinzentada com algumas regiões do corpo (ex. pescoço e membros) de coloração negra.São ainda características típicas da espécie a cabeça de pequena dimensão e o pescoço curto, bem como os membros curtos e robustos, garras não-retrácteis e cauda curta. Com uma distribuição euro-asiática a espécie pode apresentar diferenças morfológicas regionais. Na PenínsulaIbérica algumas referências mencionam que a espécie pode apresentar dimensões ligeiramente inferiores relativamente aos seus homólogos da Europa central. O seu peso e comprimento na península ibérica variam entre os 5.3 -10.40 kg e 81.50 - 98.00 cm, respetivamente. A altura ao garrote é de 30cm.


Biologia

Os texugos tendem a formar grupos constituídos pelos seus familiares, sendo uma das poucas espécies de mustelídeos que vive em regime gregário. As crias de texugos tendem a ficar no seu grupo natal constituindo grupos familiares que podem atingir 35 indivíduos nas Ilhas Britânicas, embora em média os grupos sejam constituídos por 5 indivíduos. Contudo várias referências apontam que o tamanho do grupo social possa variar em diferentes regiões da distribuição da espécie. Na Europa continental os dados existentes indicam que os texugos constituem grupos sociais ligeiramente menores (cerca de 3 indivíduos por grupo). O clã tende tipicamente a viver num sistema de tocas, vulgarmente denominados texugueiras. Desta maneira a presença de terreno de características suaves e escavável pelos texugos é um fator determinante para a presença da espécie. Uma toca típicade texugo apresenta cerca de 3 a 10 entradas, com câmaras subterrâneas, por vezes forradas (ex. fetos e palha) e conectadas por um complexo sistema de túneis. Podem ainda existir tocas periféricas de menor dimensão usadas como refúgios temporários. As tocas principais são utilizadas para reprodução e podem ser passadas de geração em geração, existindo registos de tocas que permaneceram ocupadas durante centenas de anos. No sul de Espanha, os texugos movem-se permanentemente entre diferentes tocas e os nascimentos podem ocorrer em diferentes texugueiras.

Os texugos apresentam tipicamente atividade crepuscular ou noturna e um marcado comportamento territorial. Os territórios são usualmente delimitados através de marcações sensoriais, normalmente presentes nas latrinas onde tendem a depositar regularmente os seus excrementos. Existem registos de confrontos físicos entre texugos em zonas de limite territorial. O tamanho dos territórios é variável, com referências que vão desde os 0.15km2 em Inglaterra até aos 24.4 km2 registados na Polónia. Na região mediterrânica de Portugal, os texugos apresentam territórios na ordem dos 4 a 5 km2.

Ao nível alimentar os texugos apresentam um regime omnívoro e oportunista. A espécie tende a evidenciar diferentes padrões tróficos dependendo da latitude a que se encontra. Em ambiente mediterrânico, a espécie tende a basear a sua dieta em frutos (ex. azeitonas Olea europaea, bolota Quercus suber, amoras Rubus ulmifolius,pêras Pyrus bourgaeana e figos Ficus carica) e artrópodes, já na Europa central os texugos apresentam como principal recurso alimentar as minhocas Lumbricus terrestris. Contudo,a espécie pode predar ocasionalmentemamíferos, aves, répteis e anfíbios. A espécie é usualmente considerada generalista, embora algumas referências apontem especializações sazonais.

Relativamente ao período de reprodução, a espécie atinge a maturidade sexual aos 14-15 meses podendo acasalar em qualquer mês do ano, embora seja mais comum entre Fevereiro a Maio e Julho a Setembro. Os texugos podem atrasar a implantação do embrião no útero até 10 meses para permitir o crescimento das crias na época mais favorável. Acredita-se que a implantação retardada do embrião no útero seja regulada por fatores ambientais, nomeadamente a temperatura e fotoperíodo. O período de gestação dura cerca de 7 semanas e o nascimento das crias dá-se na primavera devido à maior disponibilidade de alimento e às condições climatéricas mais favoráveis desta época, nascendo usualmente uma ninhada constituída por 2 a 3 crias.


Distribuição

A espécie apresenta uma distribuição Euro-asiática, desde as Ilhas Britânicas ao Japão. A sul a espécie parece ser limitada pela distribuição de ambientes desérticos enquanto a norte o limite de distribuição parece coincidir com a presença da floresta boreal.Na península ibérica a espécie parece estar distribuída pela maior parte da região. O texugo está ausente dos Açores, Baleares, Canárias e Madeira.  Em Portugal, não existem censos da espécie, contudo as referências existentes baseadas em dados recolhidos de uma forma não sistemática apontam para uma distribuição comum em todo território nacional.


Estatuto de conservação e ameaças

O texugo é considerado pela Lista Vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) como uma espécie pouco preocupante (LC) em termos de perigo de extinção. A nível nacional foi atribuídoo mesmo estatuto a espécie embora seja legalmente protegida. Considerada abundante na maior parte da sua distribuição, a espécie pode localmente ser sensível a alterações da paisagem (ex. redução e fragmentação de habitat óptimo), atropelamentos, bioacumulação de poluentes e as atividades de controlo específicas. No Reino Unido a espécie é vulgarmente associada à transmissão da tuberculose bovina, embora sem dados conclusivos desta associação, sendo as populações de texugos regularmente controladas com o suposto objetivo de minimizar a transmissão desta bactéria. Em Portugal não há suspeita do envolvimento da espécie na transmissão da tuberculose bovina. Os texugos podem ainda ser indiretamente mortos em armadilhas direcionadas para outras espécies. 


Ações de conservação

A espécie está listada no Apêndice III da Convenção de Berna.Os texugosencontram-se presentes em várias áreas protegidas mas ações específicas de conservação não estão a ser aplicadas, uma vez que a espécie apresenta uma situação populacional global e nacional favorável.


Referências

Loureiro F, Rosalino LM, Macdonald DW, Santos-Reis M (2007) Use of multiple den sites by Eurasian badgers, Melesmeles, in a Mediterranean habitat.Zoological Science, 24: 978 - 985
Macdonald DW (2001) The new encyclopedia of mammals. Oxford University Press, Oxford, United Kingdom
Neil E and Cheeseman C (1996) Badgers.T & A Poyser Ltd, London, United Kingdom.
Revilla E &Palomares F (2002) Spatial organization, group living and ecological correlates in low-density populations of Eurasian badgers, Melesmeles. Journal of Animal Ecology 71: 497–512
Revilla E &Palomares, F. (2002b) Does local feeding specialization exist in Eurasian badgers? Canadian Journal of Zoology, 80: 83–93
Revilla E, Palomares F & Fernandez N (2001) Characteristics, location and selection of diurnal resting dens by Eurasian badgers (Melesmeles) in a low density area. Journal of Zoology, London, 255: 291–299
Rosalino LM (2004) Environmental determinants of badger (Melesmeles) density and sociality in mediterranean woodlands.PhD Thesis, University of Lisbon, Portugal.
Rosalino LM, Loureiro F, Macdonald DW, Santos-Reis M (2005) Dietary shifts of the badger Melesmeles in Mediterranean woodlands: an opportunistic forager with seasonal specialisms. Mammalian Biology 70, 1: 12 - 23
Rosalino LM, Macdonald DW, Santos-Reis M (2005) Resource dispersion and badger population density in Mediterranean woodlands: is food,water or geology the limiting factor? Oikos 110, 3: 441 - 452

Distribuição de Meles meles em Portugal