Phytophthora cinnamomi Rands 1922
Fitóftora
Outros Nomes Comuns: fitoftora, doença-da-tinta, doença-dos-sobreiros, doença-da-morte-súbita-dos-montados, doença-do-declínio-dos-montados
Morfologia de Phytophthora cinnamomi
Informação detalhada sobre Phytophthora cinnamomi
O género Phytophthora é composto por cerca de 300 espécies de “fungos” que causam podridão radicular em várias espécies de plantas.
Embora as suas células se assemelhem ao micélio dos fungos e obtenham os seus nutrientes por absorção, não são considerados fungos verdadeiros, apresentando diferenças a nível celular e reprodutivo. Por exemplo, enquanto que os fungos são haploides e dicarióticos (têm dois núcleos N), os oomycota (onde se incluem os Phytophthora) são diploides (têm um núcleo 2N). A parede celular dos oomycota tem celulose e beta-glucanos, enquanto que os fungos têm quitina. É devido a estas diferenças na parede celular que a maioria dos fungicidas não tem efeito sobre as Phytophthora.
Phytophthora cinnamomi foi detectado pela primeira vez na árvore da canela (Cinnamomi burmamii Blume) em 1922, por Rands, na ilha da Sumatra. Desde essa data já foi citada em mais de uma centena de países como agente associado a doenças em mais de um milhar de plantas. Pensa-se que foi introduzido na Europa no séc. XVIII, período em que surgiu a doença da tinta no castanheiro, causada por este patogénico, e hoje em dia está bastante disseminado na Europa, fazendo parte da microflora de muitos solos. Em Portugal afecta especialmente o castanheiro (Castanea sativa), a azinheira (Quercus ilex) e várias espécies do coberto arbustivo como as do género Cistus, Lavandula, Phyllirea e Genista. O sobreiro (Quercus suber) é mais resistente à doença, mas na presença de outros factores debilitantes é igualmente afectado.
A partir do final dos anos 80 houve grandes surtos de mortalidade entre os Quercus, havendo herdades com mais de 90% das árvores doentes ou mortas. Pensa-se que uma dos factores de declínio seja este patogénico, associado a outras condições debilitantes, como a seca, encharcamento do solo e acções antropogénicas, como más práticas de gestão do mato.
P. cinnamomi causa podridão radicular nos seus hospedeiros, reduzindo-lhes a capacidade de absorção de água e nutrientes. Na parte aérea os sintomas são amarelecimento das folhas, desfoliação, morte da extremidade dos ramos, exudações no tronco. Estes sintomas são pouco específicos e característicos de stress hídrico e má nutrição, surgindo apenas quando a parte radicular já está seriamente afectada.
Solos ricos em matéria orgânica permitem que a microflora antagonista de Phytophthora ssp. se desenvolva e suprima este “fungo” patogénico. Em plantações de abacate é comum aplicar-se o sistema de Ashburner para evitar que as plantas sejam afectadas por P. cinnamomi: este método de controlo biológico consiste na recreação das condições do solo de florestas tropicais, onde este patogénico não consegue sobreviver. Essas plantações são cobertas por um tapete de húmus, estrume e cal, favorecendo desta forma o desenvolvimento da microflora antagonista pela adição de matéria orgânica e diminuição da acidez do solo. Este método é eficaz em plantações de produtos tropicais, embora nem sempre seja indicada para a flora mediterrânica, própria de solos mais pobres. A adição de cal é benéfica para o abacateiro, conferindo-lhe mais resistência, mas é tóxica para o sobreiro, árvore típica de solos mais ácidos e descalcificados.