• Plano aponta linhas estratégicas para a diminuição do impacto das alterações climáticas
Até ao final do século, dar-se-á a extinção de algumas espécies vegetais e animais terrestres e o aparecimento de novas estirpes marinhas, em Cascais. Esta é uma das principais conclusões do “Plano Estratégico de Cascais face às Alterações Climáticas” (PECAC), elaborado pelo CCIAM – Climate Change Impacts, Adaptation and Mitigation e promovido pela Agenda Cascais 21 em colaboração com o Departamento de Ambiente da Câmara Municipal de Cascais (CMC).
Além da biodiversidade, foram ainda objecto de um estudo aprofundado pelo PECAC os próximos 100 anos dos recursos hídricos, zonas costeiras, pescas, agricultura, saúde humana, turismo e energia de Cascais, numa análise que permite identificar os principais impactos esperados e delinear as possíveis estratégias de acção para lidar com fenómenos climatéricos.
Carlos Carreiras, vice-presidente da CMC e vereador do pelouro do Ambiente, salienta a importância deste estudo “para o correcto planeamento da nossa estratégia ambiental, económica e social, ao abranger áreas-chave para o nosso concelho.” E acrescenta: “os resultados desta análise e as linhas de acção traçadas a partir daqui permitir-nos-ão adequar a nossa actividade de modo a, por um lado, mitigar as consequências das alterações climáticas em Cascais e, por outro, abrir caminho para que outros municípios desenvolvam ferramentas adequadas a uma gestão ambientalmente responsável, num esforço conjunto pela sustentabilidade.”
Assim, no que diz respeito aos recursos hídricos, prevê-se a redução da escorrência anual das ribeiras, resultado do aumento de secas prolongadas e uma diminuição em 50% do volume extraível de água no concelho, até finais do século. Neste sentido, o PECAC propõe medidas de adaptação que passam, entre outras, pela diminuição das perdas de água e pelo assegurar a redução das descargas de poluentes no sentido de reduzir o stress sobre o meio hídrico e ecossistemas associados.
Nas zonas costeiras de Cascais, as consequências sentir-se-ão na diminuição da área útil dos areais das praias – 80% poderá desaparecer até ao final do século – associada à subida do nível médio do mar e à modificação do regime de agitação marítima. Neste sentido, o PECAC aponta como medidas: evitar soluções de ocupação permanente na praia; desenvolver um programa de monitorização para um balanço sedimentar e avaliar eventuais opções de intervenção ou operações de alimentação artificial das praias.
Para a agricultura, o PECAC prevê que o aumento das temperaturas, das concentrações de CO2 e a diminuição da disponibilidade hídrica tenham efeitos positivos ou negativos, conforme as culturas. A par do aumento do risco de propagação de pragas e plantas invasoras, é possível que o concelho deixe de apresentar condições para o vinho de Carcavelos. Neste sentido, são propostas medidas como: desenvolvimentos agronómicos e tecnológicos; fortalecimento dos conhecimentos técnicos e científicos; e medidas financeiras/económicas de incentivo.
Ao nível da Biodiversidade prevê-se a extinção de várias espécies de répteis, anfíbios e insectos, sendo de esperar, por outro lado, o aparecimento de novos exemplares de uma forma natural, no meio marinho. Aqui, poderá verificar-se o aparecimento de mais espécies do que as que irão desaparecer e, com o potencial aumento da quantidade de outras como o polvo e choco, o saldo poderá mesmo ser positivo.
Para diminuir os riscos que amaçam a biodiversidade, o PECAC propõe, entre outros, a criação de medidas de recuperação como são a Estrutura Ecológica de Cascais e os actuais planos para a criação de uma reserva marinha e para uma correcta gestão dos recursos pesqueiros.
Na saúde, o PECAC analisou variáveis como o calor, poluição do ar e doenças transmitidas por vectores. Assim, concluiu que:
Para cada aumento de 1º na temperatura máxima (a partir dos 30º), verifica-se um acréscimo de 4,7% no risco de morrer por todas as causas;
O aumento da temperatura irá favorecer a produção de ozono troposférico (O3) e o aumento da quantidade de pólenes e esporos de fungos, com consequências negativas para a saúde;
É provável que o risco de transmissão de doenças aumente até final do século, diminuindo nos meses mais quentes à medida que se aproximar o final do século.
Para analisar o impacto das alterações climáticas no Turismo de Cascais, foram tidos em conta a procura sazonal natural, que deverá ser influenciada pelas alterações climáticas; a satisfação dos turistas, cujo PET (Physiological Equivalent Temperature) – índice de impacto das alterações climáticas no conforto térmico – terá tendência a aumentar até 2100; e os produtos do Destino Estoril: golfe, sol e mar, turismo náutico, touring cultural e paisagístico, turismo de natureza, city breaks e turismo de negócios.
Enquanto que, no golfe, o cálculo do “Índice de Golfe” – indicador do tempo ideal para a prática deste desporto – aponta para uma diminuição destes dias até meados do século, no elemento praia, ao longo do século, verificar-se-ão variações significativas entre os dias inaceitáveis, marginais, adequados, bons e excelentes para usufruir deste produto.
Finalmente, no turismo náutico, o estudo aponta para uma avaliação caso a caso; no turismo de natureza, os impactos deverão estar associados a alterações no clima, paisagem e segurança na saúde; e nos city breaks e turismo de negócios, os impactos deverão ser praticamente nulos devido às infra-estruturas existentes na Costa do Estoril.