Acabada de ser descrita na revista Zootaxa, a Anapistula ataecina, da família Symphytognathidae, a mais pequena aranha europeia e uma das mais pequenas a nível mundial.
Um grande nome para uma aranha com meio milímetro quando adulta, sendo que uma das fêmeas medidas tem uns meros 0.43 mm (um recorde absoluto para uma fêmea de aranha).
Apenas é conhecida de algumas grutas do Sistema do Frade, em Sesimbra. Como curiosidade, esta espécie aparenta ser partenogénica, ou seja, não existem machos dando-se a reprodução através de “clonagem” das fêmeas. Pensa-se que será descendente de alguma outra espécie que existisse à superfície quando autênticas florestas tropicais recobriam toda esta área, há milhares de anos. Com a vinda das grandes épocas glaciais, algumas destas pequenas aranhas podem-se ter refugiado no clima mais “temperado” das grutas e aí ficaram até hoje. Os seus parentes mais próximos conhecidos estão agora restritos à floresta tropical Africana.
Descoberta há quatro anos por mero acaso durante uma actividade do Núcleo de Espeleologia da Costa Azul, não só se trata de uma nova espécie para a ciência, como os critérios IUCN a classificam como “criticamente em perigo de extinção”.
A área de distribuição potencial da espécie (que deve andar por apenas 1/2 km2) tem-se reduzido significativamente devido às pedreiras mais próximas. Será difícil, mas um dia estes pequenos seres serão considerados parte integrante da Natureza e da Biodiversidade, uma parte que vale a pena preservar. E serão vistos como aquilo que são: uma espécie única do ponto de vista filogenético, extremamente restrita e peça fundamental do seu ecossistema.
Dado o estado de quase total desconhecimento de muitos outros grupos animais, cujas características os podem colocar na mesma situação que a Anapistula, resta saber quantas espécies estamos a colocar em risco de extinção, ou possivelmente já se extinguiram, sem que sequer saibamos que existem. Felizmente o conhecimento progride, a consciência ambiental igualmente, de forma que muito pode ser feito de futuro.
Tudo isto quando esta semana mesmo se deu o tiro de partida para o Ano Internacional da Diversidade Biológica.
Foto: Pedro Cardoso