Neovison vison (Schreber, 1777)

Visão-americano

Outros Nomes Comuns: vison

Sinonímias de Neovison vison

Mustela vison

Morfologia de Neovison vison

 © Sérgio Esteves
 © Sérgio Esteves
 © Guarda-Rios do Lima
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 © Santos Sequeira
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 © Guarda-Rios do Lima

Informação detalhada sobre Neovison vison

Continente: Introduzida, Potencial invasora, não explorada em Portugal mas noutros países é criado pela pelagem e também como animal de caça e companhia.
Açores: Ausente.
Madeira: Ausente.

Ciclo de vida:   
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Morfologia de Neovison vison
Peso (macho) – 0,84 a 1,80 kg
Peso (fêmea) – 0,45 a 0,81 kg
Comprimento corpo (macho) – 32 a 45 cm (cauda - 16 a 23 cm)
Comprimento corpo (fêmea) – 32 a 37 cm (cauda - 13 a 20 cm)
Fórmula dentária – 3/3, 1/1, 3/3, 1/2 = 34
Dimorfismo sexual – ligeiro (machos maiores e mais pesados que as fêmeas)
Longevidade – 3-4 anos

Descrição Geral
O visão-americano é um mustelídeo semi-aquático. Possui um corpo alongado, com membros curtos e robustos, cauda longa e tufada. O focinho é curto e pontiagudo, as orelhas são pequenas e arredondadas e os olhos são escuros. A sua pelagem é uniforme, de cor castanho-escura (quase negra), destacando-se por baixo do lábio inferior uma mancha de pêlos brancos*. Sofre duas mudas por ano (Primavera e Outono), reguladas pelo fotoperíodo. Apresenta cinco dedos em cada pata, com membranas interdigitais incompletas que, juntamente com a pelagem densa e impermeável e a forma do corpo, lhe conferem uma boa adaptação aquática. As suas pegadas medem entre 2,5 e 4 cm de comprimento e entre 2 e 4 cm de largura, têm forma de estrela e frequentemente só ficam marcados no solo quatro dos cinco dedos. Os dejetos medem entre 5 e 8 cm de comprimento e cerca de 1 cm de diâmetro, são cilíndricos, achatados nas extremidades e possuem um forte odor característico.
* o visão-europeu Mustela lutreola (que não existe em Portugal) é por vezes confundido erroneamente com esta espécie, mas o congénere europeu apresenta esta mancha também acima do lábio superior (o que raramente acontece no visão-americano) e é mais pequeno.

Distribuição
A espécie é nativa da América do Norte, exceto Arizona e regiões mais áridas da Califórnia, Nevada, Utah, Novo México e zona oeste do Texas. Através de quintas de criação foi, de forma acidental ou deliberada, introduzida em vários países da Europa, América do Sul (Argentina e Chile) e Ásia (Japão). A sua expansão pela Europa tem aumentado rapidamente e atualmente encontram-se populações ferais na Alemanha, Bélgica, Bielorrússia, Cazaquistão, Dinamarca, Espanha, Estónia, Finlândia, França, Holanda, Irlanda, Islândia, Itália, Letónia, Lituânia, Noruega, Polónia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Rússia, Suécia. Vinda da Galiza em Espanha (onde terá sido introduzida nos finais dos anos 50), a espécie entrou em Portugal (o primeiro registo da sua presença data dos anos 80), encontrando-se neste momento confirmada a sua presença no norte do país.

Ecologia alimentar
O visão-americano é um carnívoro oportunista e generalista. Pode consumir presas aquáticas (peixes e lagostim), semi-aquáticas (aves aquáticas, anfíbios e mamíferos associados ao meio aquático) e terrestres (micromamíferos e lagomorfos). A sua dieta pode variar com a estação do ano, o habitat ou a disponibilidade de presas. Consegue matar presas maiores que o seu tamanho, sejam elas terrestres ou aquáticas. Em períodos de maior abundância de alimento chega a armazenar restos de presas nas concavidades das árvores ou debaixo das rochas. A sua audição apurada permite-lhe detetar vocalizações ultrassónicas de presas como roedores. Os machos caçam presas maiores e mais terrestres que as fêmeas, em parte por se afastarem mais das áreas onde se situam os abrigos. No noroeste de Portugal as suas presas mais importantes são o lagostim-vermelho Procambarus clarkii, os roedores (e.g. ratos Rattus sp. e Mus sp.) e os peixes (e.g. ciprinídeos e perca-sol Lepomis gibbosus).

Reprodução
A maturidade sexual é atingida em média aos 12 meses para as fêmeas e 18 meses para os machos. O acasalamento ocorre geralmente de Fevereiro a Abril, sendo este bastante agressivo e ambos os sexos podem ter mais de um parceiro sexual (poliginandria). O período de gestação é de cerca de 28 dias, podendo no entanto variar entre 39 e 76 dias, devido à possibilidade de ocorrência de uma pausa no desenvolvimento dos embriões (diapausa embrionária). As crias, 4 a 7 por ninhada, nascem entre finais de Abril e Maio, ficando aos cuidados exclusivos da fêmea que só procria uma vez por ano. Quando nascem pesam cerca de 6 g, são cegas e possuem apenas uma camada fina de pêlos esbranquiçados. Com 5-6 semanas de idade dá-se o desmame e partir das 7-8 semanas saem das tocas e começam a acompanhar a progenitora na procura de alimento. Com 12-13 semanas, no período do Outono, os juvenis tornam-se independentes. A longevidade média é de cerca de 3-4 anos, podendo sobre cuidados humanos viver até 8-10 anos.

Organização social
É um animal solitário. As suas áreas vitais têm entre 1 e 6 km de extensão (se lineares ao longo dos cursos de água) ou aproximadamente 9 ha (se irregulares em terrenos pantanosos). O tamanho destas áreas é bastante variável, pois depende de fatores como a qualidade do habitat ou a disponibilidade de presas. Os territórios dos machos são maiores que os das fêmeas e os dos adultos maiores que os dos juvenis. As maiores movimentações são feitas pelos machos durante a época de acasalamento e pelos juvenis no período de dispersão. Em habitats ribeirinhos as áreas vitais podem sobrepor-se ligeiramente entre ambos os sexos, não se verificando qualquer sobreposição ao nível intra-sexual.

Comportamento

Movimenta-se essencialmente no período noturno e crepuscular, mas por vezes também apresenta atividade diurna. Não se afasta normalmente mais que 300 m dos cursos de água, contudo na procura de zonas com maior abundância de recursos pode fazer incursões para o interior até 2 km. É uma espécie territorial e reservada. Para se proteger e cuidar das crias procura refúgios abandonados por outros animais, raramente os constrói. Estes podem localizar-se em fendas de rochas, raízes de árvores ou troncos ocos. As tocas para reprodução são forradas com vegetação seca e pêlos e penas das presas. Os seus pulmões e visão subaquática não estão tão aperfeiçoados como os da lontra Lutra lutra, pelo que geralmente antes de se lançar à água localiza primeiro as presas das margens. Não caça por emboscada, simplesmente salta sobre as presas, mordendo-as na parte de trás da cabeça ou na zona do pescoço. A comunicação inclui vocalizações como gritos agudos de alarme ou um ronronar de acasalamento. Para marcação territorial utiliza uma secreção de cheiro forte e aspeto gelatinoso, produzida pelas glândulas anais. Normalmente deposita os dejetos em locais conspícuos, como rochas ou em redor do abrigo.

Doenças e Parasitas
Uma das doenças mais conhecidas que pode afetar o visão-americano é a Doença Aleutiana ou Plasmocitose do Visão, aliás foi identificada pela primeira vez em quintas de criação deste animal. Esta é causada por um vírus altamente contagioso e provoca aborto espontâneo e morte nos indivíduos afetados. Outras doenças, como a Encefalopatia Transmissível do Visão ou a Amiloidose, também podem ser comuns. Vários endoparasitas (e.g. protozoário Sarcocystis ou nemátodo Capillaria mucronata) e ectoparasitas (e.g. carraças Ixodes spp. ou pulgas Megabothris walkeri) podem alojar-se no corpo desta espécie.

Estatuto de conservação e Ameaças
A IUCN atribuiu-lhe o estatuto de Pouco Preocupante. Atualmente apenas a subespécie Neovison vison evergladensis (endémica das Everglades, na Flórida) se encontra ameaçada. Na área de distribuição original as principais ameaças são a perseguição pelo Homem, promovida pela procura das suas peles, e a perda de habitat. Também pode ser afetado por contaminantes ambientais (nomeadamente PCBs), causando infertilidade aos indivíduos expostos. Está incluída na lista de espécies que mais ameaçam a biodiversidade na Europa e na lista das 20 espécies exóticas invasoras mais perigosas em Espanha. No Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal aparece com a classificação Não Aplicável, devido ao seu carácter de espécie introduzida.

Medidas de conservação – Nalguns locais da sua distribuição original foram implementados limites à captura de animais selvagens. Outra medida passa pela manutenção e melhoramento dos seus habitats.

Relação com o Homem
É uma das espécies criadas em quintas para utilização na indústria de produção de peles. Nos finais do século XIX era criado e treinado para caçar ratos (tal como se usa o furão na Europa). Atualmente é também tido como animal de estimação.

Impactos ecológicos
Nos locais onde é introduzido, o visão-americano pode exercer atividade predatória sobre espécies nativas e competir com predadores nativos. Na Península Ibérica pode afetar presas ameaçadas como a truta-marisca Salmo truta ou a toupeira-de-água Galemys pyrenaicus. Ao nível da competição esta verifica-se particularmente com outros mustelídeos semi-aquáticos: a lontra, o toirão Mustela putorius e o visão-europeu. No entanto, nos locais onde a lontra apresenta populações estáveis esta geralmente oferece resistência ao estabelecimento do visão-americano. Por outro lado, a disseminação da Doença Aleutiana pode ser preocupante, não só pela transmissão intraespecífica, mas também com outros mustelídeos. Nas zonas onde a espécie é nativa a introdução de visões provenientes de quintas causa desequilíbrios nas populações selvagens, nomeadamente pela adição de genes domésticos mais fracos nessas populações.

Medidas de gestão
Em alguns países promovem-se campanhas de abate na tentativa de erradicar ou reduzir os indivíduos nesses locais, minimizando assim os efeitos nefastos que os mesmos podem causar nos ecossistemas. Porém, devido à sua elevada facilidade de dispersão, eficácia reprodutora e dificuldade de captura, esta e outras medidas tornam-se bastante dispendiosas e morosas, sendo por vezes ineficazes. Assim, para gestão e controlo eficaz deste invasor, os especialistas sugerem o estabelecimento de uma estratégia holística, considerando também medidas preventivas que evitem novas introduções.

Curiosidades
A coloração original da sua pelagem é castanho-escura, foi a seleção artificial pelo Homem em quintas que produziu indivíduos com várias tonalidades (brancas, azuis, pretas, entre outras). O termo “vison” provem da palavra sueca vison que significa “um tipo de doninha”, há quem lhe chama até “doninha aquática”. Curiosas são também as libertações deliberadas de visões de quintas por ativistas dos direitos dos animais que, em prol do bem-estar de uns indivíduos, acabam por causar sérios danos a tantos outros seres vivos, para além de contribuírem para o aumento da distribuição não-nativa do visão-americano.

Referências
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Macdonald, D.W., Barret, P. 1993. Mamíferos de Portugal e Europa. Guias FAPAS. Porto.
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Distribuição de Neovison vison em Portugal