Mustela erminea Linnaeus, 1758

Arminho

Morfologia de Mustela erminea

Esta foto não foi tirada em Portugal e serve apenas de ilustração à ficha dada a dificuldade em fotografar esta espécie no nosso país © Steve Hillebrand
Esta foto não foi tirada em Portugal...

Informação detalhada sobre Mustela erminea

Origem: Nativa em Portugal continental.
Endémica: Não
Invasora: Não
Protegida: Sim. Convenção de Berna (Anexo III).
Explorada: Não. Apesar de ter sido bastante perseguida pela sua pelagem.
Perigosa: Não


Descrição geral da espécie

- Morfologia:
É um dos mustelídeos mais pequenos da fauna portuguesa. Apresenta um corpo cilíndrico com patas curtas, pescoço longo, cabeça achatada e triangular, olhos pretos brilhantes e ligeiramente salientes, orelhas arredondadas e bigodes compridos. A pelagem é castanho avermelhado na cabeça, cauda e região dorsal, e creme a amarelado no ventre, peito, garganta, lábios, parte interior das patas e rebordo das orelhas. Anualmente sofre duas mudas, sendo que no Inverno o revestimento é mais denso e claro, ficando as populações que se encontram distribuídas mais a norte com os pêlos brancos. Durante todo o ano a extremidade da cauda é preta, sendo esta uma das características que o diferencia da doninha (Mustela nivalis) [1, 2].

- Comprimento corporal (em exemplares ibéricos):
261-280 mm (machos) e 239-270 mm (fêmeas). Cauda: 109-118 mm (machos) e 102-105 mm (fêmeas) (cerca de 35% do comprimento do corpo) [2]. O tamanho do arminho tende a diminuir proporcionalmente à latitude, contrariando assim a Lei de Bergmann [3].

- Peso: Máximo de 350 g (machos) e 230 g (fêmeas) [2].
- Dimorfismo sexual: Acentuado, machos maiores - entre 40 e 80% - que as fêmeas [1].
- Fórmula dentária: 3.1.3.1/3.1.3.2 [1].


Distribuição e abundância

- Mundial:
ocupa a maior parte da região Holárctica (zonas temperadas do norte da Eurásia e América do Norte). Introduzido na Nova Zelândia desde 1880. A Península Ibérica é o seu limite meridional, onde apresenta duas áreas distintas de ocupação: a noroeste, que abrange Portugal, e junto aos Pirenéus [4]. O intervalo de temperatura da sua distribuição na Península Ibérica varia entre -14.8ºC e 30.5ºC, e o da precipitação entre 403 mm e 1760 mm anuais [5]. A distribuição está amplamente relacionada com a de pequenos roedores e lagomorfos [1]. Em Espanha (Cataluña e Aragón) foram desenvolvidos modelos de qualidade do habitat e as variáveis mais explicativas para a distribuição desta espécie relacionam-se com a precipitação, as temperaturas mínimas, a distância a cursos de água e a presença de rochas e cascalhos siliciosos, enquanto a proporção de floresta densa parece ter uma influência negativa [6]. Os dados disponíveis de densidade indicam valores extremos de 0,02 a 0,06 indivíduos/ha [7]. A nível global o tamanho da população adulta é desconhecido mas estima-se que exceda os 100000 indivíduos [8].

- Em Portugal:
Esta espécie ocorre sobretudo a norte do Douro [9]. Em 2003 foi encontrado um exemplar morto em Montemuro. Em território nacional não existem estimativas da população e desconhece-se a dimensão de uma eventual redução populacional [10].

Ecologia

- Habitat:
Ocupa uma grande variedade, mas vive preferencialmente em zonas de transição de floresta, áreas de matos e bosquetes. Está associado a biótopos húmidos habitando lameiros de montanhas, galerias ripícolas, sapais e margens de rios com abundância de micromamíferos. Encontra-se bem adaptado a zonas alpinas e à neve (podendo viver todo o ano a uma altitude superior a 2000-3000 m), mas tem tendência para evitar florestas densas e desertos [1].

- Hábitos alimentares:
Carnívoro especialista em pequenos vertebrados, predando desde micromamíferos a espécies de dimensões consideráveis, proporcionalmente ao seu tamanho, como coelhos. Quando as presas de pêlo são escassas alimenta-se de aves, ovos, rãs, peixes e insectos. Em locais com neve, o arminho (em especial as fêmeas) caça frequentemente debaixo desta e sobrevive exclusivamente de roedores e lemingues. Em partes da Eurásia, os ratos (especialmente dos géneros Arvicola e Microtus) são a presa principal [1, 11]. A sua dieta é pouco conhecida na Península Ibérica [2].

- Comportamento:
Devido ao seu metabolismo rápido grande parte do tempo é passado a caçar, procurando as presas em buracos e fendas. Progride a sua busca, num padrão em ziguezague, com o corpo estendido quase recto, dando vários passos rápidos ou, se alarmado, a galope, dando uma série de grandes saltos. Os sentidos são bastante desenvolvidos, apurando-os consoante o tipo de presa: segue o odor de pequenos mamíferos, observa os peixes nos riachos e localiza os insectos pelo som. Apesar de ser principalmente terrestre, também trepa às árvores e é um excelente nadador. Para se refugiar ou aninhar procura raízes de árvores, troncos ocos, muros de pedra ou tocas de roedores. As cavidades laterais dos esconderijos são usadas como latrina ou reservatórios de alimento para consumo posterior. É territorial, competindo pelos recursos não só com os da sua espécie, mas também a nível interespecífico com a doninha. As marcações odoríferas são a principal forma de comunicação e defesa. É uma espécie bastante esquiva, o que dificulta a sua observação no habitat [1, 8, 12].

- Organização social:
Solitário. Os machos dispersam, mas as fêmeas tendem a permanecer no local onde nasceram, só se encontrando durante a época reprodutiva. A densidade e a estrutura populacional são instáveis, devido à sua curta esperança média de vida e elevada capacidade reprodutiva. A distribuição dos indivíduos é fortemente afectada por relações de dominância, impostas pelos machos adultos, os quais possuem territórios que normalmente incluem ou sobrepõem territórios das fêmeas [1, 13]. O tamanho das áreas vitais varia com o habitat, a densidade populacional, a estação do ano, o sexo e a disponibilidade alimentar [14]. Nos machos pode oscilar entre 4-200 ha (geralmente 10-40 ha) e usualmente têm o dobro do tamanho das áreas vitais das fêmeas [1, 8].

- Reprodução:
É uma espécie polígama, com machos e fêmeas a acasalarem oportunisticamente do final da Primavera ao início do Verão. Após um período médio de gestação de 280 dias (que inclui 9-10 meses de diapausa embrionária), em Abril-Maio nascem 4 a 13 crias (em média 4-8). Estas são cegas e altriciais, mas com 2.5-3 meses já são capazes de caçar com a progenitora (o macho não intervém na criação). As fêmeas são sexualmente maturas por volta das 2-3 semanas (e geralmente acasalam com machos adultos mesmo antes de serem desmamadas), enquanto nos machos isso só ocorre com cerca de 12 meses. No habitat as fêmeas podem sobreviver por pelo menos duas épocas reprodutivas, enquanto os machos geralmente não sobrevivem tanto tempo. O sucesso reprodutivo depende fortemente da disponibilidade alimentar [1, 12].


Interesse económico e relação com o Homem

Esta espécie tem sido perseguida pelo Homem desde a Idade Média, devido ao valor da sua pele (especialmente a variante de Inverno), porém a sua procura tem vindo a diminuir. Tal como outras espécies do género Mustela, se conseguir ter acesso a aves domésticas pode alimentar-se destas. Por outro lado, como caçador exímio de roedores, ajuda no controlo de pragas, sendo neste caso a sua presença positiva para o Homem [15].

Estatuto de conservação e ameaças

- Mundial: “Pouco Preocupante” - Devido à sua ampla distribuição, por ser uma espécie a nível global relativamente abundante, sem ameaças significativas [8].

- Em Portugal: “Informação Insuficiente” (DD) - Não existe informação adequada para avaliar risco de extinção, nomeadamente quanto à redução do tamanho da população [10].

- Ameaças: Principalmente a degradação e a perda dos habitats preferenciais. Outra causa de mortalidade é o atropelamento nas estradas. Em Espanha a caça ilegal para taxidermia e comércio de peles é considerada um factor de ameaça, mas a sua importância não é conhecida em Portugal [10]. Para além disso é uma espécie bastante vulnerável devido às flutuações típicas que apresenta, relacionadas nomeadamente com as flutuações das principais presas. As populações ibéricas são também particularmente susceptíveis aos efeitos das alterações climáticas [2].

Acções de conservação
Preservar os habitats preferenciais, tais como prados e galerias ripícolas, é importante para a sua conservação. Por outro lado, para além da fiscalização de mortalidade ilegal, devem ser consideradas medidas de minimização do impacto das estradas [10]. Outros autores [5] sugerem a protecção jurídica do arminho, medidas de conservação in situ e acções que favoreçam a permeabilidade e a conectividade. Em Portugal é necessário também aprofundar o conhecimento sobre a sua biologia e ecologia, de forma a estabelecer e implementar mais eficazmente as medidas de conservação.

Curiosidades
No Japão é considerado um símbolo de boa sorte e na Europa medieval e renascentista era visto como símbolo de pureza (este facto está representado por exemplo no quadro de Leonardo da Vinci – ‘Lady with an Ermine’) [16].

Referências
[1] King CM. 1983. Mustela erminea. Mammalian Species, The American Society of Mammalogists, 195, 1-8.
[2] Ruiz-Olmo J. 2010. Armiño - Mustela erminea. Em: A Salvador, J Cassinello (eds.) Enciclopedia virtual de los vertebrados españoles. Museo Nacional de Ciencias Naturales CSIC, Madrid <http://www.vertebradosibericos.org> Acedido: Outubro 2014
[3] Erlinge S. 1987. Why do European stoats Mustela erminea not follow Bergmann’s rule? Holarctic Ecology, 10, 33-39.
[4] Palomo LJ, Gisbert J. 2002. Atlas de los mamíferos terrestres de España. Dirección General de Conservación de la Naturaleza - SECEM - SECEMU, Madrid, 564 pp.
[5] Araújo MB, Guilhaumon F, Neto DR, Pozo I, Calmaestra, R. 2011. Biodiversidade e alterações climáticas / Biodiversidad y alteraciones climáticas. Ministério do Ambiente e Ordenamento do Território & Ministerio de Medio Ambiente y Medio Rural y Marino. Lisboa / Madrid. 656pp.
[6] Ruiz-Olmo J, Camps D, Brotons L. 2007. Desarrollo de una mapa de índice de abundancia del armiño (Mustela erminea) en el Pirineo Catalán basado en la modelización de la calidad del hábitat. VIII Jornadas de la SECEM (p168), Huelva.
[7] Gisbert J, García-Perea R. 2007. Mustela erminea Linnaeus, 1758 - Armiño. Pp. 280-282. Em: LJ Palomo, J Gisbert, JC Blanco (eds.). Atlas y libro rojo de los mamíferos terrestres de España. Dirección General para la Biodiversidad -SECEM-SECEMU, Madrid. 586pp.
[8] Reid F, Helgen K. 2008. Mustela erminea. The IUCN Red List of Threatened Species. Version 2014.2. <www.iucnredlist.org> Acedido: Outubro 2014
[9] Santos-Reis M. 1985. Mustela erminea Linnaeus, 1758: a new mustelid to Portugal. Mammalia, 49(1), 136- 138.
[10] Cabral MJ (coord.), Almeida J, Almeida PR, Dellinger T, Ferrand de Almeida N, Oliveira ME, Palmeirim JM, Queiróz AI, Rogado L, Santos-Reis M (eds.). 2005. Mustela erminea Linnaeus, 1758 - Arminho (Pp. 519-520). Livro vermelho dos vertebrados de Portugal. Instituto da Conservação da Natureza, Lisboa. 660pp.
[11] Hewson R, Healing TD. 1971, The stoat, Mustela erminea, and its prey. Journal of Zoology, 164, 239-244.
[12] King CM, Powell RA, Powell C. 2007. The Natural History of Weasels and Stoats: Ecology, Behaviour, and Management. 2ª edição. Oxford University Press. 464pp.
[13] Ruff S, Wilson D. 1999. The Smithsonian Book of North American Mammals. Smithsonian Institution Press & American Society of Mammalogists, Washington DC. 750pp.
[14] Svendsen GE. 1982. Weasels. Pp. 613-628. Em: JA Chapman, GA Feldhamer (eds.) Wild mammals of North America: biology, management, and economics. The Johns Hopkins University Press, Baltimore, Maryland. 1147pp.
[15] Loso H. 1999. Mustela erminea ermine. Em: A Poor (ed.) Animal Diversity Web <http://animaldiversity.ummz.umich.edu/accounts/Mustela_erminea/> Acedido: Outubro 2014
[16] Wikipedia. 2014. Arminho. <http://pt.wikipedia.org/wiki/Arminho> Acedido: Outubro 2014

01/2014 - Ficha completa realizada por Gonçalo Curveira Santos, Raquel Mendes e Eduardo Ferreira